População de Manaus conviveu com quase três meses de qualidade do ar inadequada em 2023

 

Dados obtidos com exclusividade pelo Portal RIOS DE NOTÍCIAS apontam que de 9 de janeiro de 2023 a 10 de janeiro de 2024, Manaus registrou 82 dias com nível de poluição do ar acima do normal

Letícia Rolim – Rios de Notícias

MANAUS (AM) – Aproximadamente três meses, ou um total de 82 dias, esse foi o período que a população de Manaus conviveu com a qualidade do ar inadequada devido à fumaça que acometeu a cidade por causa das queimadas, muitas delas criminosas, realizadas na capital e nos municípios do interior do Estado. A situação ficou ainda mais crítica com o período da seca e a falta de chuva na região.

Dados obtidos com exclusividade pelo Portal RIOS DE NOTÍCIAS apontam que de 9 de janeiro de 2023 a 10 de janeiro de 2024, Manaus registrou 82 dias com nível de poluição do ar acima do normal, sendo 57 considerados “moderados”, 16 “ruim”, seis “muito ruim” e três dias com a qualidade do ar “péssima”, conforme medições do Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva) da Universidade do Estadual do Amazonas (UEA).

Manaus registrou 82 dias com qualidade do ar inadequada (Arte/Markus Santos/Rios de Notícias)

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O meteorologista e professor da UEA, Rodrigo Souza, apontou que a origem da fumaça veio das queimadas realizadas na região metropolitana de Manaus, integrada pelos municípios de Autazes, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Presidente Figueiredo, durante o período da seca. “Parte da fumaça que cobriu o Amazonas pode ter vindo do Pará também”, disse.

No dia 6 de julho, a qualidade do ar apresentou a primeira variação, considerada “moderada” com 29,5 de MP2.5. A condição persistiu até agosto, marcando quatro dias consecutivos com níveis considerados “moderados”. Essa tendência continuou quase diariamente até setembro.

No dia 8 de setembro, ocorreu o primeiro dia do ano com qualidade do ar considerada “ruim”, com 58,7 de MP2.5. Esse evento isolado já levantava indícios do que estava por vir, indicando um agravamento da situação.

Entre o primeiro dia de setembro e 26 de novembro, os moradores de Manaus experimentaram um ar classificado como “bom” em apenas 15 dias. A persistência de níveis prejudiciais à saúde durante a maior parte desse período foi um desafio para a população.

Qualidade do ar ‘insalubre’

Os dias 11 e 12 de outubro marcaram um ponto crítico, registrando, respectivamente, 182,2 e 323,3 de partículas finas MP2.5. O dia 12, em particular, foi considerado o mais insalubre registrado nesse período. Além disso, no dia 4 de novembro também foi registrado uma qualidade “péssima” com 184,1 MP2.5.

Dia 12 de outubro foi o pior em qualidade do ar, em Manaus (Arte/Markus Santos/Rios de Notícias)

O meteorologista alertou que esses números representam a primeira vez em que a qualidade do ar na cidade atingiu níveis tão elevados, indicando a gravidade da situação.

Qualidade do ar registrada em Manaus, em alguns pontos da cidade a medição foi de mais de 450 MP2.5 (Reprodução/AppSelva)

O período crítico de toxicidade do ar, desencadeado pela fumaça das queimadas, se estendeu de setembro a novembro de 2023. Foi somente a partir do dia 27 de novembro que a situação começou a apresentar melhorias, e desde então, os níveis têm se mantido considerados bons.

O que são os materiais particulados?

A mediação da qualidade do ar feita pelo Selva é registrada em materiais particulados (MP2.5) que são substâncias químicas presentes na atmosfera em forma de suspensão, podendo ser encontrados no estado líquido ou gasoso.

Além disso, podem ser classificados em quatro categorias: grossos, com diâmetro entre 2,5 e 10 μm; finos, com diâmetro de 0,1 a 2,5 μm; ultrafinos, com diâmetro de 0,01 a 0,1 μm; e nanopartículas, com diâmetro inferior a 0,01 μm.

Essas partículas são geradas a partir da queima de combustíveis fósseis provenientes de automóveis e atividades industriais, como carros e usinas de energia, além de atividades agrícolas ou queimadas como as registradas no Estado.

Problemas para a saúde e meio ambiente

Durante o período em que a capital ficou coberta por fumaça, muitas pessoas sofreram com sintomas como olhos irritados, garganta inflamada, crises de asma, piora no quadro de rinite alérgica e outros problemas respiratórios.

A exposição prolongada também pode causar problemas mais graves, afetando o sistema cardiovasculares e o sistema reprodutivo, podendo também causar câncer de pulmão, reduzindo a expectativa de vida.

Os materiais particulados representam um agravante, pois quanto menor o seu tamanho, maior o risco de contaminação. Essa característica microscópica faz com que o MP2.5 entre facilmente no sistema respiratório e se acumule no organismo humano.

Além disso, a queima de combustíveis fósseis e matéria orgânica pode causar chuva ácida, afetando o meio ambiente. O MP2.5 também pode ser encontrado na forma de carbono negro, contribuindo para o aquecimento global como resultado de queimadas em áreas de vegetação.

Qualidade do ar atualmente

Desde novembro do ano passado, a cidade de Manaus tem mantido a estabilidade na qualidade do ar. O sistema de monitoramento registrou na manhã desta segunda-feira, 29/1, índices que indicam uma qualidade considerada “boa” em todas as regiões da capital amazonense.

Os valores, variando entre 3,6 e 9,5 de partículas finas MP2.5, apontam para uma melhoria nas condições do ar. Esse cenário representa um alívio para a população local, que enfrentou grandes desafios ambientais e de saúde nos meses anteriores.

Selva

O meteorologista Rodrigo Souza ressaltou que a qualidade do ar da cidade continua sendo monitorada de perto pelo aplicativo Selva, que utiliza sensores para avaliar a concentração de material particulado na atmosfera.

Os dados podem ser acompanhados pela população por meio do aplicativo “SelvaApp”, que pode ser baixado na PlayStore (Android) e na AppStore (iOS).

Essa iniciativa tem o objetivo de fornecer informações em tempo real à população, permitindo que medidas preventivas sejam adotadas diante de grandes variações na qualidade do ar.

*Com colaboração de Fábio Leite e Gabriela Brasil